Fundação
João Fernandes da Cunha
conheça aBiblioteca João Fernandes da Cunha
venha nos visitarFundação João Fernandes da Cunha
Autor traz para novo livro as lentes singulares
de um diplomata negro navegando o racismo
Há uma linha sensível e loquaz que costura e constrói uma mandala envolvente onde figuram a ginasta Simone Biles e o ídolo do futebol Vini Jr; a diva da música brasileira Elza Soares e a ativista queniana Wangari Matai; os filhos adolescentes de diplomatas da África em 2024 e o jovem estudante de Medicina nos anos 50 – estes últimos acossados pela Polícia Militar no Rio de Janeiro em razão da pele negra, ainda que separados no tempo em 70 anos.
Esta linha, que junta delicadamente e sem qualquer rigor sequencial 25 figuras, conhecidas e anônimas, de cantos vários do planeta, em uma análise do racismo histórico e contemporâneo vigorosa – mas ainda assim desprovida de academicismo ou pretensão – é a obra Cidadanias Mutiladas, Dignidades Restauradas, de Silvio Albuquerque. Ao escrever sobre pessoas reais e contar fragmentos de suas histórias, ele restaura sua dignidade; devolve voz, cor e textura ao que a linguagem teórica muitas vezes abstrai.
Escritor, tradutor e diplomata de carreira, Albuquerque traz em 112 páginas histórias conhecidas e desconhecidas do público, narradas através de suas lentes únicas: servidor do tradicional e ainda majoritariamente branco Ministério das Relações Exteriores desde os anos 1980, o autor de 64 anos é dos poucos de sua geração que se assume como diplomata negro em voz alta; e encampa a ampliação da política de cotas para ingresso de mais jovens negros no Itamaraty com o mesmo empenho com que participou das negociações (triunfantes) da Conferência Mundial de Durban para Erradicação do Racismo em 2001.
É de Milton Santos, explica o autor, o conceito de cidadanias mutiladas, “aplicável a um conjunto de pessoas que vivem em Estados incapazes, por ação ou omissão, de proporcionar-lhes acesso aos benefícios decorrentes de processos políticos e econômicos justos.”
Mas Cidadanias Mutiladas, Dignidades Restauradas se recusa a ser uma reflexão pessimista ou amarga: à medida em que tece seu mosaico, Albuquerque também responde aos algozes, indiferentes, conservadores, liberais e radicais com as marcas deixadas pelos que se recusaram a permanecer inertes e fizeram algo para restaurar a dignidade própria ou de outros—e, por extensão, a de milhares ou milhões de outras pessoas que com elas se identificam. E, com suas ações, geraram ondas de efeitos positivos e mudaram percepções, desconstruíram preconceitos, ampliaram direitos e alimentaram esperanças.
“Em meio à descrença e ao desmonte das políticas de construção da igualdade mundo afora, o autor renova os votos—e nos exorta a fazer o mesmo—com a agenda ainda urgente de combate à discriminação, sobretudo, racial”, aponta a jornalista Flávia Oliveira, que assina a contracapa da obra. “Os relatos de Cidadanias Mutiladas, Dignidades Restauradas mostram que, se não existe antídoto contra o dolo, tampouco há interdição ao consertamento”.
Serviço
O quê: lançamento do livro Cidadanias Mutiladas, Dignidades Restauradas, de Silvio Albuquerque (Editora Telha, selo literário Pensamento Negro Contemporâneo) – já disponível via Amazon
Onde: Museu Nacional da Cultura Afro-brasileira (MUNCAB) – Rua das Vassouras, 25, Centro Histórico de Salvador (em frente à Sefaz e próximo do Elevador Lacerda)
Quando: Dia 26/11 às 15h
Sobre o autor:
Silvio José Albuquerque e Silva é diplomata de carreira. Foi Embaixador do Brasil no Quênia e Representante Permanente junto à ONU em Nairóbi. É o atual Embaixador do Brasil junto ao Reino da Bélgica e ao Grão-Ducado de Luxemburgo. Foi membro do Comitê para a Eliminação da Discriminação Racial das Nações Unidas. Autor de Multilateralismo Ambiental e Discriminação Racial, Fundação Alexandre de Gusmão, 2024. Traduziu O Topo de Montanha, de Katori Hall. Torcedor do Botafogo, nascido em Niterói e apaixonado por Salvador, considera-se sotero-niteroiense. É filho de Irídio Silva e de Maria da Penha Albuquerque Silva. É casado com Ludmilla Duarte e é pai de Bernardo, Isabel, Andrea e Tatiana.