PT ignora tese do "golpe" e tenta atrair MDB e outros partidos que derrubaram Dilma
Aos integrantes do PT, Lula tem argumentado que somente com essa reaproximação será possível compor uma chapa que tenha condições de derrotar o presidente Jair Bolsonaro
Com a volta do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao jogo político, integrantes do PT já admitem uma reaproximação com partidos que foram favoráveis ao processo de impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff em 2016 e que eram acusados pelos petistas de terem promovido um "golpe". Tentando formar alianças para as eleições de 2022, Lula tem aberto diálogo com siglas como o MDB do ex-presidente Michel Temer, o PSD e o Solidariedade – todos haviam sido favoráveis ao impeachment de Dilma.
Aos integrantes do PT, Lula tem argumentado que somente com essa reaproximação será possível compor uma chapa que tenha condições de derrotar o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) nas eleições do ano que vem. Na semana passada, o ex-presidente esteve em Brasília onde se reuniu com parlamentares e lideranças de outras frentes.
De acordo com interlocutores dos partidos que se reaproximaram do PT, apesar do otimismo provocado pela decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) que anulou as condenações de Lula no âmbito da Lava Jato, o partido ainda enfrenta rejeição pelo país e o discurso “anti-PT” estará presente nas eleições. Mesmo assim, representantes partidários avaliam que Lula será um dos protagonistas de 2022.
Como estratégia para se reaproximar do MDB, que administra o maior número de prefeituras pelo país, Lula tem procurado "caciques" do partido. Entre eles, o ex-presidente José Sarney e os ex-senadores Romero Jucá (RR) e Eunício de Oliveira(CE). Apesar das mudanças que ocorreram nos últimos anos na Executiva do MDB, essas lideranças mantiveram suas influências em seus redutos eleitorais, principalmente no Nordeste.
No recente encontro com Lula, Sarney sinalizou que boa parte do MDB estará com Lula na disputa presidencial. Além disso, os dois ex-presidentes dialogaram sobre as dificuldades de composição em alguns estados, como no Maranhão, onde Roseana Sarney (MDB) é adversária do governador Flávio Dino (PCdoB, aliado do PT) e em Pernambuco, onde o senador Fernando Bezerra (MDB), líder de Jair Bolsonaro no Senado, pretende disputar o governo estadual.
Líderes emedebistas do Norte e Nordeste admitem que, durante as conversas, Lula tem afirmado que é o nome de “centro” no tabuleiro eleitoral. Além disso, a aproximação com os antigos nomes do MDB seria uma forma de tentar neutralizar a ala bolsonarista do partido, concentrada nas regiões Sudeste, Sul e Centro-Oeste.
Para o líder do PT na Câmara, deputado Bohn Gass (RS), essa reaproximação é natural. Segundo ele, no MDB existem “bons quadros”. “A entrada do Lula no cenário político muda o quadro e tem uma grande procura para conversar com ele. Temos que consolidar a frente de esquerda e precisamos procurar essa ampliação de alianças, desde que ela se dê em cima de programas. O MDB é uma frente de federações e um partido com bons quadros para fazermos alianças”, diz o deputado.
Parte do MDB tenta frear Lula
Apesar da aproximação entre emedebistas e Lula, outra ala do MDB prepara uma ofensiva contra a possibilidade de o partido apoiar oficialmente o ex-presidente petista na disputa do ano que vem. A partir da próxima semana, a Fundação Ulysses Guimarães pretende iniciar uma série de debates e consultas aos filiados para que o partido se posicione no chamado “centro democrático”.
“Não passa de um devaneio o MDB apoiar Lula. O centro é ser radical contra o radicalismo. Se há um partido que é de centro é o MDB”, disse o deputado Alceu Moreira (MDB-RS) ao jornal O Estado de S. Paulo. Segundo ele, o movimento para barrar o avanço de Lula no partido conta com o apoio do ex-presidente Michel Temer e dirigentes do partido do Mato Grosso do Sul, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná. Esses estados historicamente se alinharam contra o PT em eleições presidenciais.
O deputado Baleia Rossi (SP), presidente nacional do MDB, tem se mantido mais distante dessas discussões partidárias. Candidato derrota na disputa pela presidência da Câmara no começo deste ano, Rossi contou com o apoio do PT, mas ao mesmo tempo mantém boas relações com o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), que tenta se viabilizar na disputa presidencial.
“Sabemos das diferenças regionais do MDB, por isso o melhor caminho para o partido é construir um candidato de centro. Vamos discutir todas essas questões com a executiva nacional do partido nos próximos meses”, disse Rossi ao jornal O Estado de S. Paulo.
PSD e Solidariedade entram no radar de Lula e do PT
Além do MDB, Lula também passou a se aproximar de integrantes do PSD e do Solidariedade – ambos favoráveis ao impeachment de Dilma Rousseff. No encontro que teve com Lula em Brasília na semana passada, o presidente do PSD, Gilberto Kassab, defendeu que seu partido poderá ter candidatura própria em 2022, mas disse que manteria diálogo com os petistas.
Já o deputado Paulinho da Força (SP), presidente nacional do Solidariedade, abriu diálogo sobre uma aliança com o PT e avaliou que seria necessário uma união de forças para derrotar o “bolsonarismo”. Paulinho visitou Lula acompanhado do deputado Áureo Ribeiro (Solidariedade-RJ), que era aliado do governo e tinha apadrinhados em cargos no Ministério da Agricultura. Os indicados do deputado foram demitidos após o partido decidir não apoiar Arthur Lira (Progressistas-AL) para a presidência da Câmara.
Segundo o deputado Zé Neto (BA), vice-líder do PT na Câmara, a movimentação do PT é mesma que consolidou a candidatura de Lula em 2002. “Eu vejo o Lula com muita maturidade e muito preocupado em avançar no sentido de colocar o Brasil em um lugar de recuperação a partir de um diálogo como ele fez em 2002. A gente sabe onde acertou e onde temos que melhorar. Não podemos fazer uma disputa que não tenha diálogo com outros partidos”, afirma o vice-líder petista.