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Uma mente brilhante
Joaci Góes
Para a amiga e competente tributarista Karla Borges!
Quem compareceu à Academia de Letras da Bahia, na noite da última terça-feira, partilhou da inefável alegria de experimentar momentos de raro enlevo intelectual, ao ouvir a conferência, com o instigante título de Manual de pequenas aventuras, proferida pelo professor, poeta, romancista, ensaísta, crítico literário, editor, poliglota e, atualmente, Presidente da Academia Brasileira de Letras Marco Lucchesi, único rebento brasileiro de uma família italiana.
As diversas manifestações da culta audiência presente ao auditório Magalhães Neto, representativa das mais influentes instituições culturais da Bahia, deram a tônica do aplauso geral a uma mente singularmente privilegiada e aprimorada sob o ritmo de uma incessante leitura, abarcante de uma temática universal, que nos leva a dizer dele o que o legendário Roberto Campos afirmou a respeito do saudoso diplomata José Guilherme Merquior, desaparecido aos 49 anos: “O moço que leu tudo”. O saber enciclopédico que Lucchesi desvela, com marcante naturalidade, já seria um feito memorável dos grandes sábios que viveram uma centena de anos, tornando-se inacreditável em quem ainda vive o verdor dos 55, ao tempo em que se comporta como o mais singelo dos mortais, a quem não faltam lhaneza e modéstia comportamental, características que incrementam a onda de acolhimento e simpatia que desperta Bahia, Brasil e Mundo afora.
Integrando o reduzido percentual dos indivíduos superdotados, para quem aprender com abrangência e celeridade são atributos naturais, de cuja gestação se incumbe mãe natureza ou a mão do acaso, a lição pedagógica que Marco Lucchesi transmitiu aos que prestigiaram o programa da Academia de Letras da Bahia, Trajetória de uma vida, reside no atributo desenvolvido por ele que incorporou aos natos, consistente em não se deixar corromper pelos inebriantes elogios que recebeu desde sempre, em decorrência do seu status de Wunderkind, garoto prodígio, elogios que vitimam, estiolando ou abortando as possibilidades de expansão e aprimoramento de dotes especiais, como acontece à maioria desses privilegiados.
Além de ler muito, o cérebro do nosso ilustre visitante opera como uma espécie de esponja, equipada com um filtro que descarta a escória enquanto coloca a essência a serviço das infinitas sinapses que atuam para fazer das múltiplas realidades do mundo físico e espiritual um todo sinérgico e homogêneo em sua diversidade ontológica, revelador da unidade cósmica. Foi isso que a culta audiência que o aplaudiu expressou nas intervenções de personalidades que compõem os mais diferentes naipes de nosso meio, a exemplo de Ruy Espinheira Filho, Nelson Cerqueira, Carlos Ribeiro, Aramis Ribeiro Costa, Luiz Cláudio Guimarães, Lourenço Mueller, Yeda Pessoa de Castro, José Mendonça, Oscar Santana e o culto magistrado Nilson Castelo Branco. O acadêmico Aleilton Fonseca sintetizou o pensamento de todos, em pequeno texto que distribuiu: “A conferência do poeta Marco Lucchesi foi uma obra de arte. Uma iluminação. Seu discurso lúcido e profundo elevou a nossa autoestima acadêmica, com sua concepção humanista, cidadã e republicana – base de uma ação intelectual diante de uma sociedade em crise de valores. Uma aula de sabedoria de um intelectual brilhante, generoso, afetivo e encantador”.
Ao encerrar o encontro que tive a honra de presidir, na venerável Academia de Letras da Bahia, disse que em 1936, ao rechaçar a presença de um general franquista que invadiu com suas tropas a Universidade de Salamanca, na Espanha, o reitor Miguel de Unamuno proferiu palavras candentes que passaram à posteridade conhecidas como O discurso da sobranceria. A oração de Marco Lucchesi merece, com toda propriedade, ser denominada como O discurso da inteligência ou síntese da razão mesclada com a sensibilidade.