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Por Jones Rossi, editor de Ideias da Gazeta do Povo
Não faz muito tempo, qualquer um que tivesse a ousadia de questionar a narrativa quase oficial de que o novo coronavírus não houvesse se originado naturalmente e fosse o resultado de um acidente de laboratório seria censurado no Facebook e em outras redes sociais. A teoria, que a cada dia se torna mais e mais plausível, era tratada como teoria da conspiração, portanto passível de censura dos iluminados do Vale do Silício, detentores de toda a sabedoria do mundo.
Como são empresas multinacionais, elas censuram qualquer um em qualquer parte do planeta. No Brasil, um médico teve o vídeo removido do YouTube apenas por ler a bula da vacina da Astra Zeneca. Ele foi à justiça e processou o Google, dona do YouTube. A empresa foi condenada a pagar R$ 50 mil por dia que descumprir a decisão de recolocar o vídeo no ar . Este é apenas um exemplo entre milhares de textos e vídeos retirados de forma arbitrária do ar pelas gigantes de informática sob a alegação de espalharem desinformação.
Evidentemente ninguém gosta de desinformação, de notícias falsas, de teorias da conspiração como a de que a Terra é plana, ou a de que o Neil Armstrong nunca esteve na Lua . Mas mesmo teorias estapafúrdias como estas não devem ser censuradas. Elas ajudam a ciência e cientistas a se comunicar melhor com o público, e, no frigir dos ovos, a debater temas científicos que nem sempre estão na pauta do dia. É quase um favor prestado pelos conspiracionistas: ao duvidar de verdades evidentes, tiram muitas pessoas da zona de conforto e dão a oportunidade de explicar como a ciência funciona.
Mas quando nos referimos à censura das redes sociais contra médicos, o caso é mais grave. A Covid-19 é uma doença nova, portanto existem poucas certezas relacionadas a ela. A OMS e órgãos de saúde ao redor do planeta já instituíram ações e depois tiveram que voltar atrás, como foi o caso do uso de máscaras, cujo uso era desestimulado no início da pandemia. Censurar médicos que tentam achar soluções para salvar vidas ou que apontam problemas nas vacinas não é negacionismo, como querem tachar alguns: é o caminho natural da ciência, da qual a dúvida sempre foi uma força impulsionadora. Tolher o direito dos médicos e dos leigos de questionar é trabalhar contra o avanço da ciência.
Por isso, a Gazeta do Povo entrou em contato com as maiores redes sociais do planeta para saber quem elas escalaram para combater o que elas chamam de posts desinformativos. São médicos, epidemiologistas, especialistas da área? Como é feito o debate acerca dos posts? Recebemos respostas insatisfatórias, que evidenciam o espírito censor dessas empresas que atualmente estão acima do Bem e do Mal. Leia a reportagem completa:
Big Tech: Redes sociais não revelam quem censura os posts “desinformativos”
Ao longo de vários meses, não foi possível publicar posts no Facebook a respeito da teoria de que o novo coronavírus vazou de um laboratório chinês. A rede social tratava afirmações do tipo como "teoria da conspiração". Ainda não se provou que o Sars-Cov-2 surgiu em laboratório — nem na natureza — mas a empresa precisou rever sua postura. No final de maio, anunciou: “Devido às investigações atuais sobre as origens da Covid-19 e em consulta com especialistas da saúde, não eliminaremos mais das nossas plataformas as afirmações de que a Covid-19 foi feita por humanos, ou fabricada”.
Até então, a empresa ameaçava punir as pessoas que publicassem textos alegando que o vírus Sars-CoV-2 foi criado por humanos. As punições permanecem para outros temas, incluindo defender qualquer tipo de tratamento imediato, por exemplo, ou apontar falhas existentes e comprovadas das vacinas.
Aqui é importante frisar que vacinas salvaram e salvam milhões de vidas, mas apontar falhas faz parte do processo científico e ajuda a aumentar sua eficácia e ajustá-las quando é necessário: a Astra Zeneca, por exemplo, não é mais indicada para mulheres grávidas. Outras vacinas também não são recomendadas para determinados grupos. Ao censurar posts com questionamentos, as redes sociais trabalham contra o avanço da ciência.
O Twitter e o YouTube, entre outros gigantes das redes sociais, também decidem o que pode ou não ser publicado a respeito do combate à pandemia. Mesmo quando os autores das mensagens são médicos, que citam pesquisas para apoiar suas afirmações.
Em fevereiro, o grupo de especialistas Médicos pela Liberdade teve a conta no Twitter suspensa. A organização mantém uma conta no YouTube e outra no Instagram. São recorrentes os casos de bloqueio a posts de médicos que questionam o consenso gerado pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Geralmente os posts sobre o tratamento precoce são alvos da censura, inviabilizando um debate de médicos que estão na linha de frente do combate contra a Covid-19. Muitos desses médicos são chamados de "negacionistas", o mesmo adjetivo usado contra aqueles que apontavam a possibilidade do vírus ter origem em laboratório.
No YouTube, um dos integrantes do grupo, o médico psiquiatra Carlos Henrique Oliva afirma: “A medicina está sendo usada como bandeira política e como atitudes autoritárias. Nossa opinião está sendo tratada como não científica, quando na verdade não ter ciência é o que eles fazem. Não existe pensamento único em ciência. Existem divergências, e as pessoas precisam escutar todos os lados para ter uma posição mais clara”.
Outro grupo de médicos que questiona afirmações da Organização das Nações Unidas sobre a pandemia, o Médicos pela Vida, buscou outra estratégia: publicou um manifesto com material publicitário na edição impressa de 11 jornais brasileiros. O conteúdo cita evidências científicas e clínicas para defender o uso de um coquetel de remédios para evitar que pacientes progridam para fases mais graves da doença. Material que, nas redes sociais, é barrado.
As reclamações dos médicos se torna mais contundente se confrontadas com as respostas dadas pelas redes sociais, que não informam se empregam médicos, epidemiologistas ou outros especialistas da área para determinar o que pode ser publicado. Procurado pela Gazeta do Povo, o Twitter afirmou, por meio de uma nota, que possui “regras para abordar informações enganosas e questionáveis sobre Covid-19. O foco está em conteúdos com mais potencial de causar danos offline, expondo as pessoas a riscos de contrair ou transmitir o vírus.”
De acordo com a nota, o Twitter trabalha “com cinco grandes categorias desinformativas. A empresa toma medidas de acordo com essas regras, que estão em constante evolução na medida em que as conversas sobre a pandemia se desenvolvem e modificam na plataforma”.
As punições incluem a exclusão do tweet, o bloqueio da conta por 12 horas ou sete dias e por fim, a suspensão permanente, após cinco transgressões.
YouTube
Procurado, o YouTube informou que “não permite vídeos que promovam desinformação sobre o coronavírus conforme detalhado em nossa política sobre informações médicas incorretas relacionadas à Covid-19”. E informa: “Desde o início da pandemia, já removemos mais de 1,3 milhão de vídeos por violarem essas regras, que já passaram por mais de 10 atualizações para se manterem alinhadas às orientações atuais das autoridades de saúde globais sobre a doença”.
Já o Facebook argumenta, em sua página, que atualiza as regras para a publicação de conteúdo constantemente. E informa em seu site que, apenas no mês de abril, aproximadamente 50 milhões de conteúdos relativos sobre a Covid-19 receberam notificações com base no trabalho de mais de 60 organizações de checagem, em mais de 50 idiomas.
Em comum, Twitter, Facebook e YouTube não desfazem a dúvida de muitos médicos: existem especialistas em saúde entre os checadores das redes sociais? A questão permanece em aberto.
Quem checa os checadores
Em maio deste ano, um relatório produzido por políticos republicanos do Comitê de Inteligência do Congresso americano questiona a ação desses checadores – especificamente aqueles que bloquearam a divulgação de um artigo de fevereiro de 2020, publicado no jornal New York Post, que debatia a possibilidade de que o vírus tivesse origem em laboratório.
“Os checadores do gigante da mídia social decidiram que esta não era uma opinião válida”, contestou o veículo, à época. “Se você tentasse compartilhar a coluna com seus amigos, seu post receberia um alerta e seus amigos não conseguiriam acessar o artigo original para tirar suas próprias conclusões”. O editorial conclui: “Quando sua defesa contra ‘fake news’ mata o livre debate, o sistema é pior do que nenhuma defesa”.
A médica Simone Gold, fundadora do grupo America's Frontline Doctors, também já questionou a falta de debates amplos a respeito de uma doença nova, sobre a qual as informações se acumulam e se sobrepõem, muitas vezes de forma contraditória. “A censura viola direitos”, afirmou à agência Bloomberg o advogado da especialista.
David Relman, microbiólogo da Universidade Stanford e um dos 18 cientistas que assinou a carta solicitando investigações mais aprofundadas a respeito da possível origem de laboratório do novo coronavírus, é outro crítico da censura em casos como este. Em entrevista ao jornal Washington Post, ele declarou que barrar questionamentos sobre o tema foi um erro: “No esforço de manter as coisas limpas, eles jogaram fora o bebê junto com a água do banho”.
Por Tiago Cordeiro - Gazeta do Povo
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