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Anna Krylov é professora de Química da Universidade do Sul da Califórnia. Ela pesquisa Química quântica e computacional. Possui alto reconhecimento acadêmico pelos pares e prêmios como:
· Dirac da World Association of Theoretical and Computational Chemists (WATOC)
· Theoretical Chemistry Award da Physical Chemistry Division da American Chemical Society
· Bessel Research Award da Humboldt Foundation, o Mildred Dresselhaus Award (DESY e Hamburg Univ).
· Plyler Prize for Molecular Spectroscopy & Dynamics (APS).
Ela nasceu na Ucrânia, na cidade de Donetsk e viveu sob o regime da União Soviética. Fez seu mestrado pela Moscow State University e doutorado pela The Hebrew University of Jerusalem. Foi para os Estados Unidos em busca de uma universidade mais livre do que a que cursou em Moscou, mas tudo começou a mudar a partir de 2020.
A pressão ideológica nas universidades
Em entrevista ao novo documentário da Brasil Paralelo, Unitopia, ela conta que a primeira coisa que sentiu ao chegar nos Estados Unidos foi a liberdade.
· Unitopia é uma trilogia que investiga diversos problemas, como a censura dentro das universidades públicas no Brasil. Assista gratuitamente.
Isso começou a mudar a partir do ano de 2020, quando a Universidade enviou um E-mail a todos os professores afirmando que a instituição se reconhecia como racista e que, a partir disso, a missão principal seria a luta antirracista.
Entre várias medidas, uma delas seria a de começar a ensinar Química através de uma lente descolonizadora. Essa definição permitiu o surgimento de disciplinas como Afro-Química.
Anna disse ter tido Dejavu do controle que sofria na União Soviética, um país que se pretendia livre passava a controlar a forma como ela ensinava a sua disciplina.
Anna conta que nos tempos soviéticos, cada pessoa era uma tábula rasa que se transformava no que o partido precisava.
Ela se surpreende ao ver estudantes defendendo o regime russo e diz que gostaria de “levá-los para um campo de plantação de batata na Rússia para eles verem o quão bem sucedido era o socialismo”.
O controle soviético da ciência
Em um artigo publicado no O Jornal de Cartas de Química Física, intitulado de O perigo de politizar a ciência, Krylov traz a sua história de vida e a sua carreira acadêmica para embasar seu argumento sobre os riscos de politizar a ciência.
Ela afirma que ao chegar na maioridade, ainda durante a União Soviética:
“A ideologia permeava todos os aspectos da vida e a sobrevivência exigia adesão estrita à linha do partido e demonstrações entusiasmadas de comportamento ideologicamente adequado”.
Nesses aspectos da vida, está incluída a ciência que sofria um rigoroso controle ideológico. Toda influência ocidental era considerada perigosa, o que fez com que disciplinas inteiras fossem declaradas ideologicamente impuras, reacionárias e hostis.
Genética e cibernética foram consideradas como “pseudociência burguesa”, assim como mecânica quântica e a relatividade geral também sofreram críticas por falta de alinhamento com o materialismo dialético.
Anna Krylov enxerga uma clara comparação entre a situação em que viveu na Rússia e a atual tentativa de controlar a linguagem nas universidades:
“A censura atual não se limita a expurgar do vocabulário científico os nomes de cientistas que ‘cruzaram a linha’ ou falharam nos testes ideológicos dos Eleitos. Em algumas escolas, as aulas de física não ensinam mais ‘as Leis de Newton’, mas ‘as três leis fundamentais da física’. Por que Newton foi cancelado? Porque ele era branco, e a nova ideologia pede ‘descentralização da branquitude’ e ‘descolonização’ do currículo. Um comentário na Nature pede a substituição do termo técnico aceito ‘supremacia quântica’ por ‘vantagem quântica’. Os autores consideram a palavra inglesa ‘supremacia’ como ‘violenta’ e equiparam seu uso à promoção do racismo e do colonialismo”.
Para a doutora em Química, normalizar essa intrusão ideológica na ciência e abandonar os princípios que regem a ciência irá custar caro.
Esse problema que Anna mostra afetando a vida do americano, também afeta a dos brasileiros. Professores e acadêmicos afirmam sofrer perseguições.
Há casos em que as vítimas chegam a ficar doentes tamanho o isolamento e ataques que sofrem.
Além de controlar a fala dos próprios acadêmicos, essa mentalidade também se desdobra para o restante da sociedade. A exemplo pode-se citar o uso de pronomes neutros que ganharam mais notoriedade na internet.
As câmeras da Brasil Paralelo entraram na Universidade para entender o que está acontecendo nesses ambientes.
Entre os entrevistados, está a professora Anna Krylov que contou mais sobre a sua vida e os problemas que enfrentou no meio acadêmico.